Uma avenida, uma noite, muitas vidas e
uma Cruz que nos leva a peregrinar em busca daqueles que não tiveram a
oportunidade de conhecer o verdadeiro amor.
Madrugada de terça-feira, 20, no
Santuário São Judas Tadeu em São Paulo, se encontram a Cruz peregrina
da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o Ícone da Virgem Maria e Jesus
Sacramentado sendo adorado numa vigília. E do lado de fora, alguns
jovens foram ao encontro das prostitutas para levarem o amor de Deus.
“Posso te dar um presente?”, indagou
Maristela Ciarrochi – quem nos conduziu até o Planalto Paulista, lugar
onde a prostituição é visível aos olhos de quem passa- “Sim”, responde a
moça com olhar desconfiado sem saber o que lhe esperava. De repente uma
flor e uma medalha de Nossa Senhora das Graças (Aquela que lhe concede
o que pedes, mas também o que não pedes). Eis que a madrugada deixa de
ser tão pesada e com tanto desamor.
“… aqui é lugar de prostituição, não rezem”
Aquela mulher tem um nome, Rose, vem do
Nordeste do país: “Meu sonho é sair da rua, ter uma casa própria e
alguém que me respeite.”
Não somos alguém que surge do
nada para desmoralizar aquela mulher, mas queremos apenas ouvi-la, dar
atenção sem pedir nada em troca. O acolhimento foi imediato, impactante
para alguém que esteve ali pela primeira vez como foi o caso de alguns
de nós.
“Podemos rezar por você?”, novamente a
moça sorridente. “Olha, prefiro que não. Não desta forma, com estes
trajes, aqui é lugar de prostituição, não rezem”, responde a garota de
programa sentindo-se indigna.
A conversa continua. Novamente, em pouco
tempo, se extrai quais as intenções de oração da moça. “Minha família,
saúde, uma vida melhor”.
Continuamos o trajeto em silêncio,
perturbadas pelo diálogo anterior, mas sem tempo de nos recompor
encontramos duas outras moças na esquina seguinte, elas aceitaram rezar
uma Ave-Maria conosco, depois as abraçamos e continuamos o nosso
percurso.
Mais a frente encontramos Luciana, mãe
de três filhos, não olhava-nos no rosto, sempre de cabeça baixa, porém
não se esquivava daquela visita, nos acolheu dando um pouco de si, de
sua vida e falava de suas dificuldades e intenções para a oração.
Entre os intervalos de uma
esquina e outra, rezávamos uma Ave-Maria por aquelas que já havíamos
encontrado e pelas que ainda íamos encontrar, e assim foi seguindo nossa
missão Madalena.
Na volta, pelo caminho, íamos nos
questionando: “O que poderia ser feito por esses? O que o Cristo faria
se estivesse ali?”. Boas perguntas que nos levam a uma grande resposta:
“Faça, mesmo que seja pouco, mas todos tem o direito de receber nem que
seja uma gota do amor de Cristo”.
O percurso segue com “um nó na
garganta”. Lágrimas contidas e o silêncio que fala por si. Difícil
entender tudo que remexe no interior, é mística da Cruz. Em cada
encontro o próprio Deus gritava aos nossos corações diante de tamanha
sede de amor.
A unção daquela mesma cruz (peregrina da
JMJ), acolhida por tantos onde passa, é a que ultrapassou as paredes
daquela Igreja nesta noite e nos fez abraçar aquelas mulheres e amá-las
como fez Jesus a Maria Madalena.
Não é ficção, é vida real. Na próxima
esquina tem alguém necessitado de amor e um simples gesto traz novamente
a esperança de que vale a pena ser diferente como Cristo foi.
Retornando ao Santuário São Judas Tadeu,
meia noite, Jesus continuava ali exposto e algumas pessoas em adoração,
tendo a presença daqueles que foram o motivo da nossa permanência na
capital paulista, a Cruz peregrina e o ícone de Nossa Senhora da
Anunciação. Pedimos a Cristo e a Maria nossa Mãe dias melhores para
todos aqueles que por alguma ‘razão’ precisam vender seus corpos a
desconhecidos, e que merecem de nós cristãos autênticos a presença
Daquele em quem nós acreditamos.
Ps: Desculpem as fotos, não podíamos usar a nossa câmera de alta resolução, mas não quisemos deixar de registrar este momento.
Por Clarissa Oliveira e Cris Henrique – Destrave
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